História do Abaetê

Baden-Powell: o começo de tudo

A compreensão daquilo que ocorreu no passado é fundamental para entendermos o presente e vislumbrarmos o futuro – grosso modo, o porquê de tudo ter acontecido e chegar onde chegou. Essa é a pura percepção da história.

No caso do escotismo, tudo teve início com Robert Stephenson Smyth Baden-Powell. Ele nasceu em Londres, capital da Inglaterra, em 22 de fevereiro de 1857.

O atavismo herdado do bisavô Joseph Brewer Smyth, um dos colonizadores de Nova Jersey (EUA), as dificuldades com a perda precoce do pai e a convivência ao ar livre forjaram uma personalidade determinante para ele se tornar um comandante militar reconhecido mundialmente.

Quando frequentou a Escola Charterhouse, não foi um grande aluno. Mas se destacou no teatro, na música e no futebol como goleiro. Aos 19 anos, ao deixar a instituição, foi a Índia para ser subtenente do regimento integrante da ala direita da cavalaria, na Carga da Cavalaria Ligeira, durante a Guerra da Crimeia.

A carreira militar de Baden-Powell mereceu elogios e honrarias. Na África (1887), tornou-se hábil em exploração de território e descoberta de pistas. Isso sem falar no combate a tribos. Em 1899, como coronel organizou batalhões e, em 1901, já como major-general, deixou a África do Sul rumo à Inglaterra.

Graças ao livro Ajudas à Exploração Militar, lido em escolas masculinas, foi uma personalidade muito popular em seu país.

Primórdios do escotismo em Canela: o Abaetê

Textos: Márcio Cavalli – Jornal Nova Época

O movimento escoteiro começou em Canela no ano de 1960, segundo se recorda Pedro Müller Coelho de Souza. Ele, Clayton e Marco Raymundo Oppitz, Flávio Dutra, Marco Antônio do Amaral Prux, Mauro e Mário Rogério Zanatta (Zuza), Paulo Saul, Renê e Wanderley Rigotto (Leco) integraram o grupo de escoteiros Abaeté (com acento agudo).

O grupo fora criado no então Ginásio Marista Maria Imaculada, em 1960, pelo irmão-diretor Terenciano. Os escoteiros eram coordenados pelo irmão Lauro, e o irmão Brício exercia a função de chefe. “Desenvolvíamos na época, 1960-1962, todas as atividades padrão do escotismo no Brasil, com os seus preceitos básicos de servir ao próximo, ser correto e prestativo, realizando no mínimo uma boa ação por dia e respeitando e cuidando dos animais e das plantas”, conta Pedro.

Os guris tinham acesso a conteúdo que envolviam disciplina e civismo, além de aulas práticas sobre acampamentos, cozinha, higiene, limpeza e segurança. Eles também participaram de um curso de fotografia com o irmão Lauro, no laboratório da escola. Antes dos trabalhos, era entoada uma saudação em tupi-guarani: Abaeté catu Tupanci jandeiara – arré, arré, arré! (Ao Grande Homem sábio e forte e à mãe de Deus, doce como o mel – salve, salve, salve!).

A maioria dos acampamentos era armada na Fazenda Oppitz, pouco mais adiante da atual Cervejaria Farol. Além de prestar serviços na comunidade, o grupo de escoteiros participava de momentos cívico-comunitários como o Sete de Setembro.

Conforme retratei em “Os Canelistas”, as professoras Palmyra Colombo e Aileda Froes fundaram, naquele mesmo início dos anos 60, a Alcateia Guarani. O grupo dos chamados lobinhos reunia meninos de 7 a 11 anos. Era uma espécie de aspirantado para eles que, um dia, se tornariam escoteiros.

Pedro Müller Coelho de Souza com o uniforme e suas cores originais em 1960

Escotismo renasce com o trabalho de Zulma e José Neves

José Martins Neves

A idealização do Grupo Escoteiro Abaetê tem seus primórdios em 1969, quando Zulma e José Neves saíram de Uruguaiana com destino a Canela. Casados desde 1960, trabalhavam no Instituto de Aposentadoria e Pensões (IAP). Esse órgão, segundo o Decreto-Lei nº 72, em 1966 seria unido a outros para dar origem ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) – hoje INSS, criado em junho de 1990. O casal havia passado sua lua de mel em Caxias do Sul e, anos depois, resolveu deixar a Fronteira em busca de um destino menor e mais seguro para a família.

Zulma e José queriam qualquer cidade da Serra, e ambos conseguiram transferência para o já extinto INPS de Canela. Mudaram-se em 1969, quando já não havia mais movimento escoteiro em Canela, tanto o iniciado pelo Abaeté dos irmãos maristas como a Alcateia Guarani das professoras Palmyra e Aileda.

Os gêmeos José Mário e João Artur Dávila Neves (os mais velhos dos cinco filhos de Zulma e José Neves) haviam passado pelos lobinhos em Uruguaiana. “Eles já vieram de lá com essa ideia do movimento. Minha mãe começou a ler, estudar sobre o escotismo”, conta João Artur sobre o intuito dos pais em Canela.

Zulma e José Neves sabiam dos benefícios do movimento escoteiro e queriam os filhos envolvidos em atividades alusivas na nova morada, justamente pelos valores que eram trabalhados, a fim de continuar a ocupá-los com atividades sadias. “A gente sabia que o grupo escoteiro ensinava a cozinhar, a nadar, a andar de bicicleta… coisa que eu nunca soube”, explica o aposentado José Neves, que tem 87 anos de idade.

Conforme João Artur, os pais se articularam rapidamente para conhecer a comunidade. Com isso, foram dando corpo à ideia de reiniciar o movimento escoteiro e procuraram pessoas e famílias com filhos jovens para efetivar um grupo.

Abaetê fundado em dezembro de 1973

A primeira reunião para a formação do futuro grupo escoteiro de Canela aconteceu no dia 4 de agosto de 1973, em uma sala do Centro Educacional Cidade das Hortênsias – hoje, a COOPEC. O encontro foi coordenado por Egon Jung – um dos grandes cidadãos da época. Mas não foi o único encontro, possivelmente, como deu a entender o depoimento de um dos filhos de Zulma e José Neves, João Artur.

A primeira diretoria do Abaetê teve a frente o casal José e Zulma Dávila Neves na presidência; Dante e Ana Jung na secretaria; e Francisco e Zeli Raymundo na tesouraria. Armando e Lucinda Caberlon, Arnildo e Lahysa Müller e Edmundo e Lurdes Santos compunham o Conselho Fiscal.

O nome para o grupo foi escolhido na segunda reunião, em 3 de setembro de 1973: Abaetê (Homem bom, em tupi-guarani). Os jovens que entrariam no movimento seriam orientados por adultos.

Embora já fizesse anos da extinção do movimento escoteiro local, soa como lógico que alguns resquícios do tempo dos guris dos irmãos marista ficou na semente do que se iniciaria logo em dezembro daquele ano de 73. Do grupo batizado como Abaetê, mudava o acento em relação ao anterior “Abaeté” dos anos 60. Talvez o nome tivesse sido sugestão de alguém outrora conhecedor das atividades do antigo Abaeté.

Esteve presente também à reunião preparatória de agosto José Ferreira Machado, hoje morador de Caxias do Sul, que prestou as orientações para a instituição do grupo. Os chefes nomeados logo passariam por um curso de capacitação promovido pela União dos Escoteiros do Brasil (UEB).

No dia 7 de outubro de 1973, os pais dos jovens que formariam a primeira turma conheceram qual seria o uniforme. E já agendaram a data para as primeiras promessas – um código de regras seguido pelos integrantes.

Às nove horas da manhã, no dia 9 de dezembro, na antiga praça das Nações (entrada da cidade), a cerimonia teve hasteamento de bandeiras. Então, fizeram suas promessas: Paulo Nestor Felippetti como chefe de grupo; Norberto Wilm e Enio Zini como chefes dos lobinhos; Roberto Engelbrecht como chefe da tropa escoteira.

Marcos Zanatta Batista, Marcelo De Nardi, Paulo de Tarso Neves, João Batista Jung, Marcos e Marne Porciúncula, Ruy Viana Rocha Júnior, Dieter Wilm, Alexandre Raymundo, Ernani Souza, José Antônio Piva, João Francisco Corrêa e Brasil José Santos Júnior foram os primeiros lobinhos. Gilberto Raymundo, Túlio Müller, Carlos Eugênio, José Mario e João Artur Neves, Luiz Corrêa, renato Godoy, Alexandre Zanatta Batista, Marcus Raymundo, José Amarildo Bohrer e Paulo Ricardo dos Santos, os primeiros escoteiros.

Na diretoria, diferentemente do acordado nas reuniões, assumiram: José Martins Neves (presidente), Maria Beatriz Dutra (diretora-secretária), Francisco Valiatti (diretor-financeiro) e Francisco Raymundo (diretor-tesoureiro). Dante Jung, Celso De Nardi, Carlos Tadeu Godoy, Arnildo Müller e Osmi Leidens assumiram o Conselho Fiscal. O coronel Daniel da Costa ficou responsável pela comunicação.

A solenidade teve como convidado o Grupo Escoteiro Caramuru, de Gramado. Severino Zini, Egon Jung, o cônego João Marchesi, o ex-prefeito Dante Bertolucci, Ruy Viana Rocha e familiares dos membros acompanharam o ato.

João Artur: testemunha do trabalho dos pais Zulma e José

Do colégio à sede definitiva na Vila Suzana

O Centro Educacional Cidade das Hortênsias foi a primeira sede do grupo Escoteiro Abaetê – por sete anos. Por dois anos, os materiais eram guardados no chalé do coronel Daniel da Costa, no bairro Santa Terezinha. Naquele tempo, as atividades aconteciam numa área verde – o atual Parque do Palácio.

Em 1984, a sede acabou transferida para uma casa de madeira cedida por Costa no Santa Terezinha, numa chácara. O imóvel foi vendido em 2001, com uma estrutura reformada. Sem um local, escoteiros e lobinhos fizeram suas reuniões no Parque do Saiqui, na Escola Estadual Danton Corrêa da Silva e numa casa cedida por Ditmar Bellmann, na Vila Suzana.

Em 2008, uma área daquela localidade foi cedida pela Prefeitura em comodato, na rua João Baldasso, nº 786. Os membros e os pais desmancharam uma casa dada pela CEEE, da Usiba da Toca, para reconstruí-la. O imóvel ganhou um banheiro e em 2004 começou a construção da sede principal, utilizada desde 2006. A área ainda recebeu plantação de centenas de mudas de espécies nativas.

Um legado de gerações marcadas pelas práticas do escotismo

Muitos foram os momentos pelos quais crianças e jovens orientados por adultos aprenderam valores e técnicas junto à natureza. Tudo foi marcado por acontecimentos e personagens que mantiveram o Abaetê ‘sempre alerta” por 45 anos. São memórias aliadas à prática de um grupo escoteiro que caminha rumo ao seu cinquentenário, com momentos desde a fundação, em 1973, à contracapa deste caderno especial, com a formação atual.

Foto de contracapa de caderno especial do jornal Nova Época em 14/12/2018

Lista dos presidentes do grupo e seu período de atuação

PERÍODONOME
1973, 1974 e 1975José Martins Neves
1976 e 1977Daniel Cruz da Costa
1978José Martins Neves
1979 e 1980Daniel Cruz da Costa
1981 e 1982Luiz Carlos de Oliveira
1982 a 1986Gilberto Aloys Schlieper
1987 e 1988Cláudio Delfim
1989 a 1992Gilberto Aloys Schlieper
1993 a 1996Alaor Simões
1997 e 1998Marizabel Viezzer
1999 a 2004Marcos Zanatta Batista
2005 e 2006Jorge Luiz Bonatto
2007 e 2008Marizabel Viezzer
2008 a 2010Carlos Eugênio de Oliveira
2010Cláudia Lawrenz
2011 e 2012Marcos Zanatta Batista
2013 e 2014Fabiana Godinho Valim
2014Simone Isabel Becker dos Santos
2015 e 2016Cláudia Lawrenz
2017 a atualMarcos Zanatta Batista

Presidente de honra: Egon Irmfried Jung – eleito em Assembleia em 03/09/1973

Quero ser escoteiro,

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